-
Arquitetos: Filippo Bricolo ; Filippo Bricolo
- Área: 280 m²
- Ano: 2015
-
Fotografias:atelier XYZ, Filippo Bricolo
Uma casa de tijolos sobre um antigo celeiro de pedra.
O projeto tinha como objetivo transformar para uso residencial os anexos rústicos da Villa Saccomani, construída no século XVIII e localizada nas colinas de Moraine, a poucos quilômetros do lago de Garda e da cidade de Verona.
Antes do projeto começar, os anexos, parte do prestigioso e monumental parque da vila, foram simplesmente vistos como áreas de pouco valor arquitetônico. Esse impacto negativo deveu-se, sobretudo, à construção de uma extensão incompatível com o local no século XX, obtida por meio da elevação de paredes de blocos de concreto sobre as paredes pitorescas e originais construídas em pedras de rio, material típico das edificações rurais da região.
O projeto previa, em primeira instância, a demolição dos anexos do século XX, despindo o edifício em sua fascinante forma original. Assim, uma nova extensão foi construída com um acabamento de tijolo aparente. Isso nos permite identificar claramente a seção original em relação à recente adição.
Para reduzir o contraste excessivo de cor que tinha sido formado entre as duas paredes confrontadas (a cor do tijolo vermelho contra a cor cinza da pedra), ambas superfícies foram cobertas com uma scialbatura cor de corda (uma técnica antiga que implica um tipo de pintura com cal). Visto à distância, dentro do parque da villa, ou da paisagem montanhosa, o edifício ampliado aparece como parte de uma unidade. Ao adentrá-lo, no entanto, é possível diferenciar claramente a parte original da mais recente.
Apesar disso, com o objetivo de reduzir o contraste dos materiais que foi formado entre a superfície da base de pedra rústica e a forte linearidade da adição em tijolos, experimentamos a instalação de uma alvenaria que fez com que o impacto visual fosse menos uniforme. A colocação dos tijolos de 30 centímetros de comprimento foi possível por meio da rotação dos maiores lados, de uma forma aparentemente desordenada, para formar cavidades assimétricas com quinas levemente convexas e côncavas. Essa solução deu à nova superfície de tijolos um impactante efeito de movimento da luz graças à formação de sombras dispersas em toda a parede.
Pelo lado que confronta o parque, a pedra coincide com o térreo e incorpora a área de estar, ao mesmo tempo que a nova fabricação de concreto define os ambientes do primeiro pavimento. A parede de tijolos no primeiro pavimento é rompida por incisões que definem as novas janelas. Os perfis destas foram instalados completamente pelo interior para que ficassem escondidos e reforçassem a ideia de arquitetura atemporal. Entre o caixilho da janela e a alvenaria, sem nenhum tipo de viga de fixação, instalou-se um vidro de segurança que atua como parapeito invisível.
No térreo, as novas janelas foram instaladas nos portais existentes do anexo e foram feitas com perfis de ferro aparente. Assim, cria-se uma maior abstração nas extensões e conserva-se um aspecto mais tradicional na parte original da construção.
A parte inferior do anexo compreende um amplo salão com pé-direito duplo dedicado à vida social da família e vinculado ao parque da villa, onde foi construída uma piscina. Esse é o único ponto em que se fez uma intervenção nas paredes de pedra originais, abrindo um vão até o parque. Essa nova abertura interrompe a continuidade de uma banda feita de concreto reforçado que percorre toda essa fachada e serve como reforço para a parede de pedra. Além disso, se encarrega pela compensação de altura entre a parede original e a parte do anexo, a qual esta alinhada com o lintel da porta.
Esse novo acesso conta com uma janela de correr de dobradiças ocultas e é visto como uma reinterpretação da porosidade visual típica das vilas de Veneto, com a abertura para o parque interno alinhada com a abertura para o campo. A fachada do longo e estreito corredor para o parque é caracterizada pela presença de uma janela localizada no ponto de transição entre o pé direito duplo do salão e a parte do anexo rústico de dois pavimentos.
Por conta disso, metade da abertura da janela é composta por pedra e outra metade por tijolo, enquanto a outra parte da janela é completamente feita em tijolo, o que enfatiza a diferença de altura na parede inicial. Ao interior, o vidro é instalado diretamente na parede, de forma que nas primeiras horas da manhã um raio de luz recai sobre a parede interna sem as sombras da janela.
Como ponto final, o projeto consistiu na transformação do "brolo" (um antigo jardim de pomar) por meio da criação de uma ampla área de grama e a construção de uma piscina central inspirada nos "peschiere" (lagoas de peixes) tradicionais das vilas de Veneto. A piscina foi construída eliminando a percepção de todos os aspectos tecnológicos. Amplas pedras de 65 centímetros de largura definem o limite entre a piscina e o gramado. O depósito de transbordamento foi escondido abaixo da superfície em todo o perímetro. Um tratamento especial com resina de cor verde permitiu a criação de efeitos visuais característicos dos lagos de peixes do século XVIII, com água que reflete o céu, as árvores e os edifícios.